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quinta-feira, 20 de junho de 2013

Preconceitos literários




Já faz um tempinho, a Tati Feltrin lançou uma polêmica através do blog e do canal no YouTube: Os preconceitos literarios. Na verdade ela questionou a ideia (sugerida por alguém num video de outro canal) de que é preciso ter "cacife" pra falar de literatura - ou certos tipos de literatura (no caso, em questão, a pessoa se referia especificamente ao "Ficando loge do fato de já estar meio que longe de tudo"). Eu gostaria de ter assistido o video original, mas como a pessoa não autorizou a divulgação, a Tati acabou nao mencionando quem foi a autora de tal pérola... Enfim. A questão do cacife ja foi largamente (e brilhantemente) discutida pela própria tatiana aqui e por varias outras pessoas. Vocês podem, inclusive, dar uma olhada nos vídeos-resposta e/ou relacionados pra ver outras pessoas criticando essa ideia estranha.

Mas o que eu queria falar aqui é um pouquinho diferente. É sobre essas pessoas que acham que literatura moderna é lixo; que apenas os clássicos são bons de verdade, de modo que se recusam a "perder horas preciosas" de suas vidas lendo best-sellers atuais. Só que se esquecem (ou talvez nunca tenham sabido, por na verdade não serem assim tãããooo cultas quanto gostam de pregar - ou de acreditar) que muitos dos livros que figuram nas listas de "grandes clássicos" atualmente, foram, ne época de seus lançamentos, best-sellers! * (há! agora durmam com esse barulho!). 

Não é que eu seja uma levantadora da bandeira de que "só porque é velho é chato/ruim", não... Sei bem dar aos clássicos seu devido valor. Mas, convenhamos, essa visão meio Frankfurtiana (nesse link tem uma explicação bacaninha sobre o que foi a Escola de Frankfurt e a Industria Cultural) de que tudo que é cultura de massa é ruim e só o que é erudito é bom já tá meio batida, né? Eu, sinceramente, não concordo com ideias no sentido de que só porque é best-seller não pode set edificante. E também não acho que quem lê apenas Kafka, Machado de Assis, Proust e Clarice Lispector seja necessariamente um ser humano melhor do que alguém que curte "literatura pipoca" (ouvi essa expressao da Clara, do "Capitu já leu?" e achei sensacional: é aquela coisa que "não tem nutrientes, mas é gostoso e enche a barriga"). Na minha opinião, julgar uma pessoa por aquilo que ela lê (ou deixa de ler) é uma das coisas mais bestas que se pode fazer... Sei lá, mas, pra mim, quem é culto/erudito/intelectual de espírito, não se importa com essas bobagens de "rótulos". Essa pessoa vai ler o que ela tem vontade, sem se importar com o que os outros vão pensar se souberem que ela leu - por exemplo - "Crepúsculo" e, principalmente, sem se importar com o que O OUTRO está lendo! Porque se você quer restringir seu conteúdo literário a determinados estilos, épocas e autores, isso é com você (tem gente que não curte mesmo, ué... e tem todo o direito de fazer essas escolhas com base no seu gosto pessoal)... Agora, querer determinar o que as outras pessoas devem ou não ler...? Socorro!!! 
#IndexLibrorumProhibitorumfeelings 

E, me desculpem se estiver enganada... Mas eu acho que, lá no fundo, essas pessoas que perdem tempo criticando as escolhas literárias alheias fazem isso como uma forma de recalcar sua própria vontade de ler uma bobagem ou outra de vez em quando. - Mas não pode, porque fica feio, né?! Imagina uma pessoa culta como você, um verdadeiro intelectual, sendo visto lendo "Harry Potter"?! Acaba com a sua imagem... (sóquenão)E pior ainda é quando esses "inquisidores" de fato conseguem fazer com que alguém deixe de ler alguma coisa por pura vergonha de ser visto com um livro "pouco nobre" nas mãos. Acho isso muito triste, de verdade. Enfim... trocando em miúdos, esse negócio de querer regular se o que os outros lêem é "digno" ou "indigno", pra mim, é coisa de quem não se garante quanto à própria erudição. #prontofalei 

Então, gente, vamos pensar nisso... Vamos deixar cada um escolher o que quer ler, sem julgamentos, sem preconceitos... Porque preconceito, seja ele de que espécie for - inclusive o literário - é algo nocivo e que deve ser combatido... 

E vamos abrir nossas cacholas também?? Que tal?? É aquela velha história: como você pode dizer que não gosta e rejeitar algo que nunca experimentou? Então, se você é do tipo de pessoa que só lê grandes clássicos de grandes autores (que em sua maioria já morreu), dá uma chance pra um best-sellerzinho de autor novo. E faça isso esperando, pura e simplesmente, se entreter. Seu cérebro não vai derreter por conta disso, juro! E aqueles que tem preconceitos contra os clássicos (porque a gente bem sabe que também existe esse outro lado da moeda, né?), deem uma chance também... Eu acho que muitas vezes o que acontece é que somos obrigados a ler, na escola, obras para as quais ainda não estamos preparados, para as quais ainda não temos maturidade intelectual... E isso pode mesmo acabar criando uma aversão em certas pessoas. No meu caso, por exemplo: tive que ler Dom Casmurro e O Alienista por volta dos 13 anos. Acho cedo... Na época achei tudo um saco, mas pegando pra ler agora, provavelmente já veria com outros olhos (só não tomei coragem pra pegar de novo, até hoje, esses dois especificamente porque ainda estou me curando do trauma, haha!)

No fim das contas, a questão é superar a barreira do preconceito e dar uma chance pro que é diferente daquilo que você está acostumado, que está fora da sua zona de conforto... Como dizia uma professora de literatura que eu tive, "saiam desse mundo da almofada cor-de-rosa"! ;) Vamos ler e deixar ser lido tudo aquilo que trouxer algum prazer pra quem escolher o livro (afinal, a leitura não-técnica/não-acadêmica não é mesmo pra isso? pra dar prazer a quem lê?), mas sem ter medo de experimentar o diferente... Porque vai que você descobre que gosta? :D Pronto, abriu seus horizontes, tem mais um gênero pra acrescentar à sua prateleira e, com isso, mais um milhão de possibilidades de novas leituras, de novos livros... Pra não ficar sempre lendo mais do mesmo apenas por falta de opção. Agora, se você já experimentou e nao gostou, ah, vai ser feliz lendo o que gosta e deixa os outros lerem o que eles gostam em paz também! ;)





* Também sobre os clássicos e como muitas vezes estes se tornaram clássicos, vale a pena dar uma olhada nesse vídeo da Vevs Valadares.

5 comentários:

  1. preciso quebrar a ideia de que poesia velha é sempre prolixa, preciso me dar uma nova chance, quem sabe não há algo bom por ali...

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    1. Acho super válido dar uma chance pra algo diferente, quem sabe você acaba gostando, né?

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  2. Lendo de tudo um pouco é bem mais fácil analisar o que é bom ou ruim , a pior coisa é ficar numa mesmice só

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  3. Adorei o texto! Todo livro tem o seu valor e todo gosto merece respeito. Amo clássicos e best-sellers, que afinal se tornaram clássicos e best-sellers por boas razões. Além disso, ás vezes é a obrigação de ler apenas o que é considerado bom pelos outros que afasta muita gente do mundo da leitura, cada um tem um gosto específico e são conquistados por livros diferentes. O ato que ler já é mágico e merece ser incentivado, independente do que se leia.
    Aline Ventura
    http://bgbliss.wordpress.com/

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